Torna-me a cena
Da peça faltante
Do ato covarde de não
Torna-te a arte da cena.
Feito mar, cheio de ondas...
Bem sabes que nada sou
Nada és
(gotícula do nada)
Com tantas (m)águas
A mim
Molhasse a alma.
Tomou de mim
Tudo que não fiz
Enfim, o que não quis
Pois nada existe
A não ser o que tens aí,
O que tenho em mim.
(É tudo aquilo que nunca vemos,
Nos falta aos olhos.)
Tornou de minhas frases,
Teu roteiro certo,
Direi incerto
Pois só é certo
A inexistência
De tal,
Tua certeza,
É incerta.
Desagua imensidão
Do escuro trás o som
A noite sem fim
Invento teu refrão
Desfaço tua peça
Um teatro da arte da vida que é arte
A peça perdida
Do quebra-cabeça sem solução
A peça do ato
A arte de nada ensaiar na vida
A não ser o ato de tentar uma vida
Misturo tudo, a vida te mistura
Se mistura pra não ser a peça perdida
No ato
De não ser peça nenhuma
Não existe teatro
A vida é a arte,
Muitas vezes
De não fazer parte
Do teatro
Outra cena, outro ato.
Ser a peça do tablado.
Ensaio tua cena,
Câmera e luz,
Luz essa que mostra tua cara
Camufla tua alma
Alma tua que perdida faz companhia
A tantas outras
Achadas, desencontradas,
Extasiadas com tanta informação
-Que informação? Pergunta o tolo.
O tolo que nada vê
Somente se distrai com a vida
Coisa tal, que falta a tantos
Que falta a mim
Falta de mim
Misturo tudo que desagua
Feito poesia em um mundo sem fim,
Sem ato, nem cena,
Nem começo, nem fim
Quando acabar, desagua!
Desagua teu verso em mim
Ato final:
A vida não tem roteiro,
Segue a vida,
Sem rodeios.
Fecham-se as cortinas,
Quem gostou aplaude,
Somente no final.